sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Manejo químico de plantas daninhas no milho RR


O
 milho RR é um transgênico que recebeu um gene de resistência ao herbicida glyphosate; dessa forma, a planta de milho não sofre nenhum dano com a aplicação deste produto, permitindo um fácil controle de daninhas que estejam na lavoura. Essa maior simplicidade no controle de daninhas é uma das causas do aparecimento de vários casos de resistência de plantas aos herbicidas, visto que a pressão de seleção sobre estas plantas aumentou muito com a diminuição do espectro de produtos utilizados no controle. Atualmente, no Brasil, as seguintes espécies possuem resistência ao glyphosate: Conyza bonariensis (buva), Conyza canadenses (buva), Conyza sumatrensis (buva), Lolium multiflorum (azevém), Digitaria insularis (capim-amargoso), portanto é necessário o uso de outros herbicidas para controlá-las, aumentando o custo de produção.  Outro aspecto importante é que a própria planta de milho torna-se daninha (milho tiguera) quando ocorre em uma lavoura plantada na mesma área em sucessão ao milho RR; neste caso, faz-se necessário o uso de graminicidas para controlá-la.

Para evitar que mais casos de resistência apareçam para o glyphosate ou, até mesmo, outras moléculas, o agricultor deve rotacionar as culturas, de modo que não se sucedam cultivos com o gene RR em uma área, e também rotacionar os herbicidas utilizados na lavoura, diminuindo, assim, a pressão de seleção sobre as daninhas. A época correta de aplicação do glyphosate na lavoura também é de suma importância para um manejo eficiente de plantas daninhas; visto isto, seguem algumas instruções básicas para o controle de plantas daninhas em milho RR:

1.       O período total de prevenção da interferência (PTPI) vai da semeadura (S) ao estádio vegetativo (V8), sendo que, o período anterior à interferência (PAI) vai de (S) ao (V2), e o período crítico de prevenção da interferência (PCPI) vai de (V3) a (V8).

2.       Em áreas com baixa infestação de plantas daninhas, faz-se uma única aplicação de (glyphosate + atrazina + óleo) em V4 (Figura 1).

Figura 1. Aplicação de herbicidas em milho RR com baixa infestação de plantas daninhas. Fonte: Cristofolleti (dados não publicados).
3.       Em áreas com intermediária infestação de plantas daninhas, faz-se uma aplicação de (glyphosate + atrazina + mesotrione + óleo) em V2 ou V3 (Figura 2).
Figura 2. Aplicação de herbicidas em milho RR com intermediária infestação de plantas daninhas. Fonte: Cristofolleti (dados não publicados).

4.    Em áreas com alta infestação ou com plantas daninhas de difícil controle, faz-se uma aplicação sequencial de (glyphosate + atrazina + óleo) em V4 e (glyphosate) em V8 (Figura 3).
Figura 3. Aplicação de herbicidas em milho RR com alta infestação de plantas daninhas. Fonte: Cristofolleti (dados não publicados)

5.      Em áreas com alta infestação de plantas daninhas resistentes ao glyphosate aplicar herbicida pré-emergente antes da semeadura do milho e glyphosate de V4 a V6 (Figura 4).
Figura 4. Aplicação de herbicidas em milho RR com alta infestação de plantas daninhas resistentes ao glyphosate. Fonte: Cristofolleti (dados não publicados)

Vale ressaltar que cada caso possui suas especificidades, sendo, portanto, necessárias medidas pontuais, como a utilização de herbicidas específicos para determinadas plantas daninhas que possam, porventura, ocorrer na lavoura de milho.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

MANEJO DE PLANTAS DANINHAS NA CULTURA DO MILHO. Disponível em: http://www.lpv.esalq.usp.br/sites/default/files/Apresentacao_Daninhas_Milho.pdf. Acesso em: 27 set. 2018.

MILHO RR: VANTAGENS, DESVANTAGENS E CUSTOS. Disponível em: https://www.campograndenews.com.br/artigos/milho-rr-vantagens-desvantagens-e-custos. Acesso em: 27 set. 2018.

PLANTAS DANINHAS RESISTENTES A HERBICIDAS. Disponível em: https://www.croplifela.org/pt/pragas/lista-do-pragas/plantas-daninhas. Acesso em: 27 set. 2018.

SISTEMAS DE PRODUÇÃO COM MILHO TOLERANTE A GLIFOSATO. Disponível em: http://www.apps.agr.br/upload/ax10_2201201338074700_sistemasdeproducaocommilhorr_abrasem.pdf. Acesso em: 27 set. 2018.

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

O controle químico de plantas daninhas na cultura do milho

A
s plantas daninhas são, basicamente, aquelas que estão em um lugar onde não deveriam estar; dessa forma, agem negativamente sobre as plantas de determinada cultura, competindo com estas por espaço, luz, água e nutrientes. Para o milho não é diferente, diversas espécies de folhas-estreitas - grama-seda (Cynodon dactylon), capim-carrapicho (Cenchrus echinatus), capim-colchão (Digitaria horizontalis), tiririca (Cyperus rotundus) etc. - e de folhas-largas -caruru (Amaranthus spp.), corda-de-viola (Ipomea spp.) etc. - têm habilidade de competir com a cultura, absorvendo parte dos fatores responsáveis pela produção de biomassa e prejudicando a produção do cereal, podendo ocasionar perdas de 10 a 80% na produtividade. 


As espécies de plantas daninhas comumente encontradas em áreas de produção podem apresentar propagação vegetativa, como o capim-massambará (Sorghum halepense), a tiririca e a grama-seda, as quais têm sua disseminação favorecida pela fragmentação de suas partes no preparo do solo; assim, devem ser controladas antes da aração (Figura 1). Para tanto, no mínimo uma semana antes do preparo da área, aplicam-se herbicidas sistêmicos sobre estas daninhas, por exemplo, o glyphosate, que tem se mostrado eficiente no controle. Vale ressaltar que em plantas com alto vigor vegetativo – absorvendo água e nutrientes e fazendo fotossíntese – o resultado da aplicação de herbicidas é melhor do que em plantas estressadas.
Figura 1. Aplicação de herbicida antes do preparo do solo.

Outro período de aplicação de herbicidas na cultura do milho é em pré-emergência das plantas daninhas, ou seja, a daninha é controlada antes mesmo de iniciar qualquer competição com a cultura. O agricultor deve estar atento ao fato de que alguns desses herbicidas necessitam de leve incorporação ao solo a fim de não perderem efeito por volatilização ou fotodecomposição, assim, sua aplicação e incorporação serão antes da semeadura do milho (Figura 2); já os produtos que não são incorporados- são aplicados sobre o solo após a semeadura ou após a última gradagem (Figura 3) – necessitam de umidade do solo para sua ativação, podendo, assim, ocorrer uma desuniformidade de controle em áreas que a operação se estendeu por vários dias.  A aplicação em pré-emergência ou pré-plantio incorporado do herbicida Trifuralin é eficiente no controle de capim-marmelada (Urochloa plantaginea), capim-colchão, e capim-carrapicho, já para o controle de folhas-largas, o herbicida atrazine tem melhores resultados.
Figura 2. Aplicação de herbicidas em PPI (Pré-plantio incorporado); ao fundo, observa-se a plantadeira de milho
Figura 3. Aplicação de herbicidas em pré-emergência de plantas daninhas

A aplicação de herbicidas também pode ser realizada em pós-emergência de plantas daninhas (Figura 4), nesta modalidade, a competição entre daninha e cultura será mais acentuada, devendo o agricultor estar atento ao momento ideal de realizar o controle para evitar perda de produção. O período crítico de controle de daninhas na cultura do milho vai dos 20 aos 60 dias após a emergência das plântulas. Neste intervalo de tempo, as daninhas devem ser controladas com muita eficiência, pois é onde se definem o número de fileiras por espiga e o número de grãos por fileiras do milho, refletindo uma produção boa ou ruim.  Aplicação em pós-emergência pode ser precoce (folhas-largas com, no máximo, 3 folhas e folhas-estreitas sem perfilhamento), normal (folhas-largas com, no máximo, 6 folhas e folhas-estreitas com, no máximo, 3 perfilhos), e tardia (folhas-largas com mais de 6 folhas e folhas-estreitas com mais de 3 perfilhos), sendo que a suscetibilidade da daninha ao herbicida tende a diminuir com o seu desenvolvimento. As condições climáticas para uma boa aplicação são: temperatura entre 20 e 30 °C, umidade relativa entre 70 e 90%, velocidade do vento menor ou igual a 10 km/h e não haver previsão de chuva logo após a aplicação.  O nicosulfuron é um herbicida bastante recomendado para várias daninhas que ocorrem na cultura do milho.

Figura 4. Aplicação de herbicida em pós-emergência de plantas daninhas

Com este artigo, buscou-se resumir os principais itens envolvidos no controle químico de plantas daninhas na cultura do milho, para informações mais detalhadas recomenda-se a consulta ao material disponível na literatura e o acesso ao site Agrofit que traz, detalhadamente, os produtos comerciais registrados para a cultura.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CONTROLE DE GRAMÍNEAS NA CULTURA DO MILHO (ZEA MAYS) COM TRIFURALIN, EM PRÉ E PÓS-EMERGÊNCIA. Disponível em: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item /51370/1/Controle-gramineas.pdf. Acesso em: 26 set. 2018.

LORENZI, H. et. al. Manual de identificação e controle de plantas daninhas: plantio direto e convencional. 7. Ed. Nova Odessa, SP: Instituto Plantarum, 2014.

VARGAS, L. et. al. Manejo de plantas daninhas na cultura de milho. Documentos online 61. EMBRAPA, set. 2006.

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Brusone, uma doença das gramíneas



Inúmeras doenças afetam as gramíneas; fungos, bactérias, vírus e nematoides podem ser a causa de perdas de diversas ordens na produtividade das plantas da família Poaceae.  Dentre as doenças, uma em especial merece destaque, sobretudo por ser muito importante na rizicultura e na triticultura – principais alimentos consumidos no mundo -, a brusone. Esta é causada por um fungo do gênero Magnaphorte (forma imperfeita do gênero Pyricularia); além de infectar o arroz e o trigo, o patógeno pode se hospedar no milho, milheto, cevada, e também em gramíneas tidas como plantas daninhas, assim, seu controle deve englobar várias medidas.  A disseminação primária da brusone - entrada da doença na área - se dá por sementes infectadas e por restos culturais contendo o patógeno, já a secundária – entre as plantas de uma mesma área - se dá pelo transporte de esporos pelo vento, insetos etc. As condições que favorecem a doença são: alta umidade (UR acima de 90% e período de molhamento superior a 10 horas) e temperaturas entre 25 e 28 ºC.

A brusone pode acometer uma planta durante todo o seu ciclo; nas folhas, os sintomas se ini­ciam com pequenas lesões necróticas amarronzadas, que, ao aumentarem de tamanho, tor­nam-se elípticas com margem marrom e centro cinza (Figura 1); com o avanço da doença a folha afetada e a própria planta podem morrer. Quando a doença afeta a região nodal, o sintoma se dá por uma coloração marrom envolta do nó (Figura 2), que pode estrangular o colmo e causar chochamento dos grãos – evidenciado pelo branqueamento das panículas - (Figuras 3 e 4).

O controle da brusone exige a utilização de práticas culturais, tais como a semeadura de culti­vares resistentes – para o trigo não existe cultivares com resistência adequada, portanto, utili­zam-se cultivares tolerantes à doença -, a rotação de culturas, incorporação de restos culturais (quando possível), eliminação de daninhas hospedeiras etc. já o controle químico com fungici­das sistêmicos deve ser feito no tratamento de sementes e de maneira preventiva no final do período de emborrachamento e no início da emissão de panículas, sempre utilizando os pro­dutos registrado para a cultura (vide Agrofit). Fungicidas contendo mistura de triazóis e estro­bilurinas têm se mostrado eficientes para o controle da brusone.

Por fim, vale ressaltar que a doença pode causar perdas de até 100% da produção em casos extremos, indicando que rizicultores e triticultores devem estar sempre atentos ao risco de ocorrência da Brusone em seus cultivos, a fim de tomar providências tempestivas que impe­çam danos econômicos.


Figura 1. Sintomas de brusone em folhas de arroz. Fonte: invasive.org
Figura 2.  Sintomas de brusone em nós de colmos de arroz. Fonte: Embrapa
Figura 3. Sintomas de brusone em panículas de arroz. Fonte: invasive.org

Figura 4. Sintomas de brusone em panículas de trigo. Fonte: Embrapa

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


BRUSONE NO TRIGO. Disponível em: http://www.agencia.cnptia.embrapa.br /Agencia35/AG01/arvore/AG01_83_259200616453.html. Acesso em: 26 set. 2018.



quarta-feira, 19 de setembro de 2018


Oídio, uma doença comum!

Quando se fala em doenças de plantas não há como esquecer-se daquela que tem um dos sintomas mais característicos – manchas brancas pulverulentas sobre as folhas -: o Oídio. A doença não é causada apenas por uma espécie de fungo, mas por várias, cada qual com sua afinidade específica por um hospedeiro. São inúmeras as espécies de plantas com interesse comercial atacadas, dentre estas estão:  frutíferas, olerícolas, grandes culturas e ornamentais.

No abacate (Persea americana Mill.), por exemplo, os sintomas iniciais dão-se, principalmente, nas folhas mais novas: manchas esbranquiçadas e pulverulentas na parte superior da folha, já na parte inferior aparecem áreas cloróticas. Com o desenvolvimento da doença, a folha inteira fica tomada pela mancha esbranquiçada; nesta frutífera, o agente causador da doença é o fungo Oidium persicae. Nas cucurbitáceas (pepino, abóbora, melancia etc.), o fungo Sphaerotheca fuliginea é o agente causador do Oídio; os sintomas assemelham-se aos do abacateiro, com a formação de massa branca pulverulenta (micélios, conidióforos e conídios) que, em estádio avançado, atinge toda a superfície foliar. Na soja (Glycine max L. Merril), a doença é causada por Microsphaera diffusa, que também infecta outras espécies de leguminosas; os sintomas são semelhantes aos vistos anteriormente.

Os agentes causais do Oídio são, geralmente, favorecidos por alta umidade e alta temperatura; os conídios (estruturas reprodutivas) são facilmente disseminados pelo vento, que os transporta para novas áreas, onde, em contato com um hospedeiro, germinarão; chuvas intensas prejudicam a doença, pois “lavam” as plantas e danificam estruturas do fungo (micélio e conidióforo).

Uma medida interessante para o controle é a pulverização de plantas com sintomas inicias a partir de produtos à base de enxofre, como a calda bordalesa (sulfato de cobre, cal virgem e água); estes fungicidas de contato geralmente apresentam bom resultado, porém, fungicidas sistêmicos recomendados para cada cultura apresentam resultados mais eficientes (vide Agrofit). Para algumas culturas, como a soja, existe a possibilidade de resistência varietal, sendo esta a forma mais eficaz de controle.

É importante salientar que o agricultor deve ficar atento ao aparecimento do Oídio quando em condições favoráveis ao seu desenvolvimento, e tomar as medidas de controle o mais rápido possível; a doença prejudica a fotossíntese, diminui o desenvolvimento dos tecidos e pode levar à queda de folhas e outros órgãos, acarretando em menor produtividade.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

Kimari, H. et al. Manual de fitopatologia 3ª ed. São Paulo: Agronômica Ceres. 1995-1997. 2v.: il.