sábado, 27 de outubro de 2018

Manchas cloróticas na face adaxial e esporulação na face abaxial. Que doença é?


D
oença bastante conhecida por quem vivencia a produção agrícola, o míldio é uma fitopatogenia causada por algumas espécies de microrganismos que, apesar de não pertencerem ao reino Fungi, estão inseridas neste para facilitar os estudos. Diferentemente do Oídio, que é uma infecção superficial, o Míldio penetra nos tecidos da planta, fato que dificulta a tomada de medidas curativas para sanar o problema. Os sintomas da doença ocorrem principalmente nas folhas, sendo evidenciados na face superior pela formação de manchas cloróticas que evoluem para necróticas, e na face inferior pelo surgimento de corpos de frutificação. Diversas são as culturas atacadas por estes organismos: olerícolas, gramíneas, leguminosas e fumo estão entre as que apresentam os maiores danos provocados pelo Míldio.

Nas asteráceas (chicória, almeirão, alcachofra e alface) o agente causal da doença se chama Bremia lactucae, ocorrendo quase que exclusivamente nesta família de plantas. Em decorrência do ataque surgem manchas amareladas na parte adaxial das folhas (Figura 1), já na abaxial aparecem massas de conídeos. O agente causal é favorecido por alta umidade e baixa temperatura, e ocorre em todo o Brasil. O patógeno sobrevive nos restos de cultura e sementes contaminadas; pode ser disseminado por mudas, sementeiras, água de irrigação ou de chuva, e pelo vento. No controle cultural da doença, devem ser tomadas as seguintes medidas: utilização de mudas sadias, irrigação localizada, resistência varietal, eliminação dos restos culturais da área e rotação de culturas; já o controle químico deve ser feito aplicando-se fungicidas protetores quando as condições climáticas forem favoráveis à doença (vide Agrofit).
Figura 1. Manchas amarelas na face adaxial de folha da alface. Fonte: Jesus G. Tofoli.
Em gramíneas como o sorgo e o milho, o agente responsável pela doença é o Peronosclerospora sorghi, o qual sobrevive no solo na forma de oósporos, e infecta as plântulas de forma sistêmica. Os sintomas em plantas jovens vão de clorose a enfezamento, já em plantas adultas ocorre uma forte clorose na parte superior da folha (Figura 2), podendo ocorrer formação de massas de conídeos na parte inferior; as folhas que saem do cartucho das plantas doentes são facilmente rasgadas pela ação do vento. Os oósporos são disseminados por sementes infectadas ou pelo vento, sendo que a baixa umidade e temperaturas menores do que 10 °C favorecem a doença; já os conídios, que são disseminados pelo vento, têm produção favorecida por baixa umidade e temperaturas inferiores a 18 °C. Para o controle da doença, além da utilização de cultivares resistentes, recomenda-se a eliminação de restos culturais e a rotação de culturas; já o controle químico pode ser feito com o tratamento de sementes utilizando fungicidas sistêmicos.
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Figura 2. Mancha necrótica na folha de sorgo.
No gênero Allium (alho, cebola, cebolinha etc), o fungo Peronospora destructor é o causador do Míldio. O microrganismo sobrevive em restos culturais, e é disseminado pela ação do vento ou de respingos de chuva; as condições climáticas favoráveis à doença são: alta umidade relativa e temperaturas inferiores a 22 °C.  Nas folhas, os primeiros sintomas são manchas amareladas; com a evolução da doença podem aparecer sobre as lesões massas de conídeos (Figura 3). No controle, devem ser tomadas as mesmas medidas culturais vistas anteriormente, acrescendo os seguintes pontos: evitar áreas sujeitas a neblinas, dar preferência àquelas com boa drenagem, e utilizar espaçamentos maiores para favorecer a ventilação entre as plantas.
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Figura 3. Massa de conídeos em folha de Cebola.
O míldio também pode acometer as seguintes leguminosas: ervilha, soja, feijão-vagem e feijão. Nesse caso, o agente patogênico é o fungo Peronospora manshurica. Por afetar as sementes, o microrganismo é disseminado, principalmente, por meio destas; porém, dentro da lavoura, a disseminação ocorre pelo vento. A doença ocorre, mormente, em períodos de inverno, pois é favorecida por temperaturas baixas. Nas folhas, a doença é evidenciada pelo aparecimento de pontuações amarelas na parte adaxial (Figura 4), e esporulação de coloração rósea na parte abaxial; nas sementes, forma-se uma crosta (Figura 5). Para o controle, o uso de cultivares resistentes é a melhor forma; o tratamento químico deve ser feito em sementes, e com o uso de fungicidas protetores.
Figura 4. Manchas amarelas na face adaxial de folha da soja. Fonte: Agrolink.
Figura 5. Formação de crosta em sementes de soja. Fonte: Maria Cecilia Litardo. 
Em plantas da família das crucíferas (couve, couve-flor, couve-chinesa, brócolis, nabo, repolho e rúcula), o míldio é identificado por um agente causal denominado Peronospora parasítica. O fungo sobrevive em restos culturais, no solo, e em plantas hospedeiras – daninhas ou voluntárias – na forma de oósporos (esporos de resistência); em condições favoráveis – alta umidade relativa e baixa temperatura – este germina, disseminando-se por meio do vento e de respingos de chuva, e contaminando as plantas, principalmente sementeiras; sementes e mudas contaminadas são outras formas de disseminação da doença. Uma vez infectada, a planta deverá apresentar os seguintes sintomas: na face superior surgem lesões necróticas (Figura 6), já na inferior - nas áreas correspondentes às lesões necróticas – surgem estruturas de frutificação do fungo de coloração esbranquiçada. Algumas práticas culturais podem ser úteis para evitar a ocorrência da doença, são elas: eliminação de restos culturais, rotação de cultura com plantas não suscetíveis à doença, utilização de sementes e mudas com boa sanidade, e evitar excesso de irrigação em sementeiras. Para o controle químico, recomenda-se a utilização de fungicidas protetores e sistêmicos.
Figura 6. Lesões na face adaxial da folha de couve. Fonte: Agrolink.
Em plantas ornamentais, a espécie causadora do Míldio se chama Peronospora sparsa; a gérbera e a rosa são as plantas mais atacadas. O parasita é um hospedeiro obrigatório, sobrevivendo em hospedeiros vivos; alta umidade e baixa temperatura favorecem a produção de esporos, sendo disseminados, principalmente, por vento, respingo de chuvas e água de irrigação. Quando a planta tem a doença, suas folhas apresentam manchas pardacentas na face superior (Figua 7), e na inferior ocorre a formação de estruturas de frutificação de cor branco-acinzentado, em casos mais severos, a planta pode apresentar desfolha. Além da folha, outro órgão que pode ser atacado é a flor; neste caso, o botão floral e o cálice apresentam manchas avermelhas, sendo que o desenvolvimento da flor é paralisado; os produtores conhecem este sintoma como “louquinha”. As práticas culturais recomendas para menor ocorrência da doença vão desde a eliminação de restos culturais, passando pela rotação de culturas com plantas não suscetíveis, e chegando à manutenção da umidade relativa abaixo de 85% em ambientes protegidos. O controle químico com fungicidas de contato ou sistêmicos deve ser realizado quando necessário.
Figura 7. Manchas pardacentas na face superior de folha da roseira. Fonte: Jean L. Williams-Woodward.
No tabaco, o míldio, também conhecido como mofo-azul, tem como agente causal o fungo Peronospora tabacina. Sua ocorrência restringe-se às plantações dos estados do sul do país e de São Paulo. O patógeno sobrevive, mormente, em plantas voluntárias; após a esporulação, sua disseminação ocorre pelo vento, por insetos ou pelo homem; quanto às condições climáticas, tem-se que dias frios e úmidos são mais favoráveis à ocorrência da doença. Seus sintomas ocorrem nas folhas, e são evidenciados pela formação de manchas amarelas na face superior (Figura 8), e esporulação de coloração branco-acinzentada na parte inferior - às vezes, esta apresenta um reflexo azulado -; devido à necrose da parta aérea das plantas, os danos da doença podem ser severos quando esta ocorre em sementeiras. Uma prática cultural importante para evitar a ocorrência do fungo é a escolha de áreas de plantio com boa drenagem e livres de sombreamento excessivo; o controle químico deve ser feito nos canteiros de mudas de forma preventiva, aplicando fungicidas (Mancozeb, por exemplo) logo após a emergência.
Figura 8. Manchas amarelas na face adaxial de folhas de tabaco. Fonte: Agrolink.
Nas cucurbitáceas, o míldio é provocado pelo fungo Pseudoperonospora cubensis; as espécies mais afetas são: abóbora, melão, melancia e pepino; o fungo está presente em todas as regiões produtoras, sempre causando prejuízos econômicos aos produtores. O fungo é um parasita obrigatório, sobrevivendo na forma de oósporos em restos culturais; em condições de alta umidade e temperaturas baixas a amenas (10 a 25 °C), o patógeno encontra condições ideais de sobrevivência, disseminando-se na forma de esporos pelo vento, respingos de chuva ou água de irrigação. Os sintomas na face adaxial são evidenciados por manchas cloróticas (Figura 9), que, com o passar do tempo, unem-se, formando uma camada branca e fina; já na parte abaxial, ocorre a formação de corpos de frutificação do fungo (esporangióforos e esporângios) de coloração verde-oliva a púrpura; ataques severos causam desfolha, raquitismo e má formação dos frutos. Para o controle, faz-se necessário o uso de práticas culturais para evitar a umidade, como preferir a irrigação por gotejamento e aumentar o espaçamento entre as plantas para melhorar a ventilação. No controle químico, fungicidas protetores podem ser usados de forma preventiva ao aparecimento dos primeiros sintomas da doença; fungicidas sistêmicos podem ser utilizados de forma alternada aos protetores.
Figura 9. Manchas cloróticas em folhas de cucurbitácea. Fonte: Rahul Sharma.
Com esta publicação, fica evidente a importância dos agricultores ficarem atentos ao Míldio, de forma a evitar que a doença atinja grandes proporções na área e espalhe-se para outros locais; assim, os produtores devem usar cultivares resistentes quando possível, rotacionar as culturas, evitar áreas úmidas, propiciar maior ventilação as plantas, e fazer o uso racional de fungicidas de acordo com a recomendação técnica (vide Agrofit).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Míldio. Disponível em: https://www.agrolink.com.br/problemas/mildio_1606.html. Acesso em: 25 out. 2018.

Míldio. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%ADldio. Acesso em: 25 out. 2018.

Sistema de Agrotóxicos Fitossanitários – AGROFIT -. Disponível em: http://agrofit.agricultura.gov.br /agrofit_cons/principal_agrofit_cons. Acesso em: 25 out. 2018.


quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Tipos e cultivares de feijão


O feijão-comum (Phaseolus vulgaris) é um alimento consumido e produzido mundialmente, sendo, portanto, de grande importância para a alimentação das populações humanas. Trata-se de uma cultura que pode ser produzida tanto em pequena quanto em grande escala; porém, para se atingirem boas produtividades é necessário escolher o tipo e a cultivar de feijão que melhor se adapte à região de cultivo. Nessa escolha, deve ser levado em consideração: a produtividade, a tolerância às principais pragas e doenças que ocorrem no local, a época de plantio (1ª, 2ª ou 3ª safra), e a aceitação comercial do tipo de grão pelo mercado consumidor.

No Brasil, os tipos de grãos de feijão-comum consumidos são os seguintes: carioca; branco; vermelho; rajado; e preto (Figura 1). O tipo carioca, além de possuir ótima produtividade, apresenta boas características culinárias, como rápido cozimento e caldo claro e denso; por sua vez, o feijão-branco é ideal para ser enlatado, pois preserva suas características nutricionais, ao contrário dos outros quando colocados nesta situação; o feijão-vermelho pode ser consumido de várias formas – ensopado, salada ou enlatado – e apresenta excelentes características nutricionais; porém, por apresentar alto teor de fito-hemaglutinina – substância tóxica –, deve ser bem cozido antes do consumo. O feijão-rajado é ideal para o consumo na forma de sopa, e apresenta um sabor leve e adocicado; o feijão-preto, por seu turno, é preferencialmente consumido na forma de feijoadas – ensopado de feijão com carne suína -, sendo mais consumido do que o feijão-carioca nos estados do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Espírito Santo.
Figura 1. Tipos de feijão - da esq. para dir.-: branco, rajado, preto, carioca e vermelho.
O melhoramento genético possibilitou a formação de uma ampla gama de cultivares de feijão; os principais órgãos que trabalham com o estudo de novas cultivares são públicos, como a EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), o IAPAR (Instituto Agronômico do Paraná), o IAC (Instituto Agronômico de Campinas), o IPA (Instituto Agronômico de Pernambuco) etc. Hoje, o melhoramento genético busca, entre outros fatores, uma boa fixação biológica de nitrogênio (FBN), resistência a pragas e doenças, resistência à seca, resistência à colheita mecanizada, aumento de produtividade, melhor qualidade nutricional, e menor tempo de cozimento.

A orientação técnica adequada levará o produtor a escolher uma semente que melhor se enquadre em suas necessidades. 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. O cultivo de feijão: recomendações técnicas. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Centro Nacional de Pesquisa de Arroz e Feijão. – Brasília : EMBRAPA-SPI, 1994. 83 p.-

Catálogo de cultivares de feijão-comum. Disponível em:  https://ainfo.cnptia.embrapa.br/ digital/bitstream/item/154713/1/catalogoFeijao-safra2016-2017-web1.pdf. Acesso em: 11 out. 2018

Feijão. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Feij%C3%A3o. Acesso em: 11 out. 2018.

TSUTSUMI, C. Y. et al. Melhoramento genético do feijoeiro: avanços, perspectivas e novos estudos, no âmbito nacional. Nativa, Sinop, v. 03, n. 03, p. 217-223, jul./set. 2015

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Poda da Amora-preta


A
amoreira-preta (Rubus idaeus L.) (Figura 1) é uma espécie frutífera adaptada aos climas temperado e subtropical; no Brasil, seu cultivo iniciou-se a partir da década de 70, quando a Embrapa começou os primeiros estudos com a cultura. Atualmente, existem diversas variedades da planta, dentre as quais a mais notória é a Tupy, desenvolvida pelo programa de melhoramento genético da Embrapa Clima Temperado. A amora-preta é uma planta muito rústica, apresentando poucos problemas com pragas e doenças, e necessitando de pouco insumo, por isso, é considerada ideal para a agricultura orgânica e familiar. Porém, um manejo essencial que não pode ser negligenciado é a poda, que tem por finalidade a limpeza do cultivo, a renovação dos ramos, e, consequentemente, a melhoria da produção.
Figura 1. Amoreira-preta (Rubus idaeus L.).
Comercialmente, a amoreira-preta é plantada em renques ou conduzida em espaldeiras, sendo o espaçamento de 0,5 x 3,0 m muito utilizado; as plantas são mantidas ao redor de 1,5 m de altura (Figura 2). As podas realizadas na amoreira-preta são duas: uma no verão, após a produção dos frutos, em que os ramos produtivos são cortados rente ao solo (Figura 3), deixando quatro ramos primários; também deve ser feita a poda de desponte das hastes do ano (Figura 4), deixando-as com altura de 1,0 a 1,2 m, forçando a emissão de ramos laterais, que produzirão na safra seguinte; outra poda é realizada no inverno, em que os ramos secundários com até 30 cm do solo são eliminados, e os laterais são despontados, ficando com 30 cm de comprimento, e raleados, deixado uma distância de, no mínimo, 10 cm entre eles.
Figura 2. Plantação de Amoreira-preta em floração.
Figura 3. Poda de verão de ramos rentes ao solo.
Figura 4. Desponte das hastes no verão.
Podas drásticas realizadas no verão, em que, após a colheita, todas as hastes são reduzidas a 5 cm de altura do solo (Figura 5), podem facilitar o manejo das plantas sem diminuir a capacidade produtiva; já, podas drásticas realizadas no inverno não são recomendadas, pois proporcionam queda de produção.
Figura 5. Poda drástica de verão.
Para a realização de uma boa poda, recomenda-se a utilização dos seguintes instrumentos: podão – para retirar as hastes mais próximas às plantas; tesoura de poda – para fazer a poda das hastes mais próximas ao podador -; e luvas – para evitar ferimentos ao podador que estiver trabalhando com variedades que contenham espinhos (Figura 6). Para mais informações, sugere-se a consulta à bibliografia citada a baixo.
Figura 6. Instrumentos para a poda.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CAMPAGNOLO, M. A.; PIO. R. Poda drástica para a produção de amora-preta em regiões subtropicais. Pesq. agropec. bras., Brasília, v.47, n.7, p.934-938, jul. 2012. Disponível em: http://seer.sct.embrapa.br/index.php/pab/article/viewFile/12104/7474. Acesso em: 04 de out. 2018.

Poda de Amora. Reportagem: Yéssica Lopes. Terra sul. Disponível em: https:// www.youtube.com/watch?v=wTUv33YiO3k. Acesso em: 04 out. 2018.

SANTOS, A. M.; BASSOLS, M. C.; MADAIT, J. C. M. A cultura da amora-preta. EMBRAPA. Centro de Pesquisa Agropecuário de Clima Temperado. 2. ed., rev. e aum. – Brasília: EMBRAPA-SPI/Pelotas: EMBRAPA – CPACT, 1997. 61 p.; 16 cm. (Coleção Plantar; 33). Disponível em: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/161998/1/A-cultura-da-amora-preta.pdf. Acesso em: 04 de out. 2018.

terça-feira, 2 de outubro de 2018

Carrapato-estrela, o principal ectoparasita dos equinos.


N
o Brasil, os carrapatos são os ectoparasitas mais importantes que acometem equinos; eles sugam o sangue dos animais, abrem feridas que servem de porta de entrada para microrganismos maléficos, e são vetores dos agentes causais de doenças em equinos e até mesmo em humanos (Febre Maculosa). As três espécies que são comumente encontradas são: Anocentor nitens, Amblyomma cajennense e Boophilus microplus. Esta postagem restringe-se à A. cajennense, que é bastante encontrada na região sudeste, e vem causando problemas de ordem sanitária em populações animais e em humanos.

O carrapato A. cajennense é um artrópode que possui grande diversidade de hospedeiros, incluindo animais, aves e o homem; dentre estes, necessita de três de uma mesma espécie ou espécies diferentes para completar seu ciclo de vida. A fêmea ingurgitada (Figura 1) desprende-se do hospedeiro e cai no solo em busca de local apropriado para liberar as larvas - micuins - (Figura 2), estas, partem em busca de um hospedeiro, ficando nos estratos mais altos da vegetação (Figura 3); ao encontrá-lo, as larvas alimentam-se de seu sangue e, em poucos dias, voltam ao solo para tornar-se ninfas - vermelhinho - (Figura 4); estas, por sua vez, repetem os passos das larvas, procurando um hospedeiro, alimentando-se e voltando ao solo para tornarem-se adultos (Figura 5); os adultos (machos e fêmeas), a fim de se alimentarem e reproduzirem, também precisam de um hospedeiro; por fim, a fêmea ingurgitada volta ao solo para iniciar um novo ciclo. No Brasil, o ciclo completo de vida do carrapato leva, no mínimo, um ano.
Figura 1. Fêmea de carrapato-estrela ingurgitada.
Figura 2. Larvas de carrapato-estrela (micuins).
Figura 3. Micuins no estrato superior da vegetação em busca de hospedeiro.
Figura 4. Ninfa de carrapato-estrela.
Figura 5. Adultos (macho e fêmea) de carrapato-estrela.
O cavalo é um hospedeiro tradicional do A. cajennenses e, por isso, devem-se tomar as medidas de controle necessárias para diminuir a população do carrapato em áreas de criação. Uma primeira medida importante para o controle é a manutenção das pastagens limpas, ou seja, livre de plantas daninhas e com altura baixa da forragem, pois, assim, o sol poderá entrar com mais facilidade no estrato herbáceo, aquecendo a região e provocando a morte de alguns indivíduos da população de carrapatos. Outra medida muito importante é o controle químico; este controle é feito a partir da pulverização sobre o corpo do animal de uma calda contendo um acaricida - deltametrina, por exemplo - (Figura 6); esta deve ser feita, semanalmente, nos meses de abril a outubro, época que coincide com os períodos larval e ninfal do carrapato; controlando estas fases tem-se, consequentemente, a diminuição da população de adultos no período da primavera-verão. Após a pulverização, o cavalo deve voltar para a área onde estava anteriormente, com o propósito de servir de isca para os carrapatos que estiverem em busca de um hospedeiro. Animais gestantes não devem receber o tratamento, pois pode ocasionar problemas na gestação.  Também é recomendado que no período de primavera-verão sejam feitas retiradas manuais de fêmeas ingurgitadas que estejam no corpo dos animais, diminuindo, assim, as populações de larvas no ciclo seguinte.

Figura 6. Equino recebendo pulverização contra carrapatos.
Ademais, sugere-se a leitura de artigos que foram escritos por profissionais gabaritados no assunto.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BIOLOGIA E CONTROLE DE CARRAPATOS EM EQUINOS NO BRASIL. Disponível em: https://www.agrolink.com.br/saudeanimal/artigo/biologia-e-controle-de-carrapatos-em-equinos-no-brasil_53914.html. Acesso em: 02 de out. 2018.

LABRUNA, M. B. et al. Controle estratégico do carrapato Amblyomma cajennense em equinos. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/cr/v34n1/a30v34n1.pdf. Acesso em: 02 de out de 2018.

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Lagarta-do-maracujazeiro, como controlá-la?


A
 lagarta-do-maracujazeiro ou lagarta-das-folhas (Dione juno juno) é uma espécie de inseto pertencente à ordem Lepidóptera  que pode atacar diversas plantas cultivadas, tais como a soja, o milho, o algodão, o arroz, o trigo etc., porém, é no maracujá (Passiflora spp.) que esta lagarta é considerada uma praga-chave. A desfolha causada pelo inseto (Figura 1) ocasiona redução de crescimento e de produção do maracujazeiro, pois ocorre diminuição da área fotossinteticamente ativa e, consequentemente, menor quantidade de carboidrato é produzido; ademais, ataques sucessivos podem causar a morte das plantas. Visto isto, é de suma importância o acompanhamento das plantas de maracujá, a fim de detectar os sintomas (desfolha) no início do ataque e tomar medidas de controle tempestivamente.
Figura 1. Folha de maracujá com sintomas de ataque de Dione juno juno
As borboletas depositam de 70 a 140 ovos de coloração amarela na face inferior da folha (Figura 2); ao eclodirem, as lagartas passam por até cinco estágios no período de 19 a 27 dias.  As lagartas possuem coloração escura, com comprimento máximo de 30 mm, seus corpos são recobertos por “espinhos” e os indivíduos possuem hábito gregário (Figura 3).  Após a metamorfose, os indivíduos tornam-se adultos que medem de 50 a 70 mm de envergadura e possuem asas de coloração alaranjada com detalhes em preto (Figura 4).
Figura 2. Ovos de Dione juno juno.
Figura 3. Lagarta-do-maracujazeiro
Figura 4. Adulto de Dione juno juno
Além dos danos causados nas folhas pela alimentação, as lagartas podem raspar a casca dos ramos do maracujazeiro, originando feridas que podem se tornar porta de entrada para doenças.  O período seco favorece a ocorrência da praga.

Para o controle da praga, recomenda-se em cultivos pequenos a catação manual dos ovos e lagartinhas - não causa queimaduras -; já em cultivos mais extensivos é recomendada a utilização de inseticidas registrados para o maracujá e que tenham ação de contato, baixo poder residual (para não afetar a colheita) e sejam seletivos, não prejudicando os inimigos naturais e agentes polinizadores. No site do Agrofit é possível encontrar uma lista de produtos comerciais registrados para a cultura; aconselha-se, ainda, o acompanhamento das instruções contidas na bula para que se tenha uma aplicação mais eficiente, por exemplo, tem-se que: para não prejudicar a mamangava (Xylocopa spp.), polinizador do qual o maracujazeiro é altamente dependente, deve-se realizar a aplicação de produtos antes da abertura das flores, que, geralmente, ocorre a partir do meio-dia. Além dos inseticidas químicos, os biológicos (Bt e Baculovírus) têm se mostrado eficientes no controle.

Tabela 1. Lista de inseticidas registrados para o controle da Lagarta-do-maracujazeiro.
Produto
Ingrediente ativo
Subgrupo químico
Grupo químico
Antrimo
Teflubenzurom
Benzoilureias
Inibidores da biossíntese de quitina, tipo 0, Lepidoptera
Cartap BR 500
Cloridrato de cartape
Análogos da nereistoxina
Bloqueadores dos canais dos receptores nicotínicos da acetilcolina
Kaiso 250 CS
Lambda-cialotrina
Piretroide
Moduladores de canais de sódio

Kalontra
Teflubenzurom
Benzoilureias
Inibidores da biossíntese de quitina, tipo 0, Lepidoptera
Nomolt 150
Teflubenzurom
Benzoilureias
Inibidores da biossíntese de quitina, tipo 0, Lepidoptera
Pirate
Clorfenapir
Clorfenapir
Desacopladores da fosforilação oxidativa via disrupção do gradiente de próton
Rumo WG
Indoxacarb
Indoxacarb
Bloqueadores de canais de sódio dependentes da voltagem
Thiobel 500
Cloridrato de cartape
Análogos de nereistoxina
Bloqueadores de canais dos receptores nicotínicos da acetilcolina
Thuricide
Bacillus thuringiensis
Bt
Disruptores microbianos da membrana do mesêntero
Fonte: Agrofit & IRAC-BR

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AGROFIT. Disponível em: http://agrofit.agricultura.gov.br. Acesso em: 01 de out. 2018.
CLASSIFICAÇÃO DO MODO DE AÇÃO DE INSETICIDAS. Disponível em: www.irac-br.org. Acesso em: 01 de out. 2018.

DE MOURA, M, F et al. SELETIVIDADE DE INSETICIDAS A TRÊS VESPIDAE PREDADORES DE DIONE JUNO JUNO (LEPIDOPTERA: HELICONIDAE). Disponível em: https://ainfo.cnptia. embrapa.br/ digital/bitstream/AI-SEDE/16798/1/pab98_121.pdf. Acesso em: 01 de out. 2018.

DIONE JUNO. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Dione_juno. Acesso em: 01 de out. 2018.

LAGARTA DO MARACUJAZEIRO. Disponível em: https://www.agrolink.com.br/problemas/ lagarta-do-maracujazeiro_443.html. Acesso em: 01 de out. 2018.

MANEJO DE PRAGAS. Disponível em: http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/ territorio_mata_sul_pernambucana/arvore/CONT000gztrwiyx02wx7ha0aadhmpmvu12la.html. Acesso em: 01 de out. 2018.