sábado, 27 de outubro de 2018

Manchas cloróticas na face adaxial e esporulação na face abaxial. Que doença é?


D
oença bastante conhecida por quem vivencia a produção agrícola, o míldio é uma fitopatogenia causada por algumas espécies de microrganismos que, apesar de não pertencerem ao reino Fungi, estão inseridas neste para facilitar os estudos. Diferentemente do Oídio, que é uma infecção superficial, o Míldio penetra nos tecidos da planta, fato que dificulta a tomada de medidas curativas para sanar o problema. Os sintomas da doença ocorrem principalmente nas folhas, sendo evidenciados na face superior pela formação de manchas cloróticas que evoluem para necróticas, e na face inferior pelo surgimento de corpos de frutificação. Diversas são as culturas atacadas por estes organismos: olerícolas, gramíneas, leguminosas e fumo estão entre as que apresentam os maiores danos provocados pelo Míldio.

Nas asteráceas (chicória, almeirão, alcachofra e alface) o agente causal da doença se chama Bremia lactucae, ocorrendo quase que exclusivamente nesta família de plantas. Em decorrência do ataque surgem manchas amareladas na parte adaxial das folhas (Figura 1), já na abaxial aparecem massas de conídeos. O agente causal é favorecido por alta umidade e baixa temperatura, e ocorre em todo o Brasil. O patógeno sobrevive nos restos de cultura e sementes contaminadas; pode ser disseminado por mudas, sementeiras, água de irrigação ou de chuva, e pelo vento. No controle cultural da doença, devem ser tomadas as seguintes medidas: utilização de mudas sadias, irrigação localizada, resistência varietal, eliminação dos restos culturais da área e rotação de culturas; já o controle químico deve ser feito aplicando-se fungicidas protetores quando as condições climáticas forem favoráveis à doença (vide Agrofit).
Figura 1. Manchas amarelas na face adaxial de folha da alface. Fonte: Jesus G. Tofoli.
Em gramíneas como o sorgo e o milho, o agente responsável pela doença é o Peronosclerospora sorghi, o qual sobrevive no solo na forma de oósporos, e infecta as plântulas de forma sistêmica. Os sintomas em plantas jovens vão de clorose a enfezamento, já em plantas adultas ocorre uma forte clorose na parte superior da folha (Figura 2), podendo ocorrer formação de massas de conídeos na parte inferior; as folhas que saem do cartucho das plantas doentes são facilmente rasgadas pela ação do vento. Os oósporos são disseminados por sementes infectadas ou pelo vento, sendo que a baixa umidade e temperaturas menores do que 10 °C favorecem a doença; já os conídios, que são disseminados pelo vento, têm produção favorecida por baixa umidade e temperaturas inferiores a 18 °C. Para o controle da doença, além da utilização de cultivares resistentes, recomenda-se a eliminação de restos culturais e a rotação de culturas; já o controle químico pode ser feito com o tratamento de sementes utilizando fungicidas sistêmicos.
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Figura 2. Mancha necrótica na folha de sorgo.
No gênero Allium (alho, cebola, cebolinha etc), o fungo Peronospora destructor é o causador do Míldio. O microrganismo sobrevive em restos culturais, e é disseminado pela ação do vento ou de respingos de chuva; as condições climáticas favoráveis à doença são: alta umidade relativa e temperaturas inferiores a 22 °C.  Nas folhas, os primeiros sintomas são manchas amareladas; com a evolução da doença podem aparecer sobre as lesões massas de conídeos (Figura 3). No controle, devem ser tomadas as mesmas medidas culturais vistas anteriormente, acrescendo os seguintes pontos: evitar áreas sujeitas a neblinas, dar preferência àquelas com boa drenagem, e utilizar espaçamentos maiores para favorecer a ventilação entre as plantas.
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Figura 3. Massa de conídeos em folha de Cebola.
O míldio também pode acometer as seguintes leguminosas: ervilha, soja, feijão-vagem e feijão. Nesse caso, o agente patogênico é o fungo Peronospora manshurica. Por afetar as sementes, o microrganismo é disseminado, principalmente, por meio destas; porém, dentro da lavoura, a disseminação ocorre pelo vento. A doença ocorre, mormente, em períodos de inverno, pois é favorecida por temperaturas baixas. Nas folhas, a doença é evidenciada pelo aparecimento de pontuações amarelas na parte adaxial (Figura 4), e esporulação de coloração rósea na parte abaxial; nas sementes, forma-se uma crosta (Figura 5). Para o controle, o uso de cultivares resistentes é a melhor forma; o tratamento químico deve ser feito em sementes, e com o uso de fungicidas protetores.
Figura 4. Manchas amarelas na face adaxial de folha da soja. Fonte: Agrolink.
Figura 5. Formação de crosta em sementes de soja. Fonte: Maria Cecilia Litardo. 
Em plantas da família das crucíferas (couve, couve-flor, couve-chinesa, brócolis, nabo, repolho e rúcula), o míldio é identificado por um agente causal denominado Peronospora parasítica. O fungo sobrevive em restos culturais, no solo, e em plantas hospedeiras – daninhas ou voluntárias – na forma de oósporos (esporos de resistência); em condições favoráveis – alta umidade relativa e baixa temperatura – este germina, disseminando-se por meio do vento e de respingos de chuva, e contaminando as plantas, principalmente sementeiras; sementes e mudas contaminadas são outras formas de disseminação da doença. Uma vez infectada, a planta deverá apresentar os seguintes sintomas: na face superior surgem lesões necróticas (Figura 6), já na inferior - nas áreas correspondentes às lesões necróticas – surgem estruturas de frutificação do fungo de coloração esbranquiçada. Algumas práticas culturais podem ser úteis para evitar a ocorrência da doença, são elas: eliminação de restos culturais, rotação de cultura com plantas não suscetíveis à doença, utilização de sementes e mudas com boa sanidade, e evitar excesso de irrigação em sementeiras. Para o controle químico, recomenda-se a utilização de fungicidas protetores e sistêmicos.
Figura 6. Lesões na face adaxial da folha de couve. Fonte: Agrolink.
Em plantas ornamentais, a espécie causadora do Míldio se chama Peronospora sparsa; a gérbera e a rosa são as plantas mais atacadas. O parasita é um hospedeiro obrigatório, sobrevivendo em hospedeiros vivos; alta umidade e baixa temperatura favorecem a produção de esporos, sendo disseminados, principalmente, por vento, respingo de chuvas e água de irrigação. Quando a planta tem a doença, suas folhas apresentam manchas pardacentas na face superior (Figua 7), e na inferior ocorre a formação de estruturas de frutificação de cor branco-acinzentado, em casos mais severos, a planta pode apresentar desfolha. Além da folha, outro órgão que pode ser atacado é a flor; neste caso, o botão floral e o cálice apresentam manchas avermelhas, sendo que o desenvolvimento da flor é paralisado; os produtores conhecem este sintoma como “louquinha”. As práticas culturais recomendas para menor ocorrência da doença vão desde a eliminação de restos culturais, passando pela rotação de culturas com plantas não suscetíveis, e chegando à manutenção da umidade relativa abaixo de 85% em ambientes protegidos. O controle químico com fungicidas de contato ou sistêmicos deve ser realizado quando necessário.
Figura 7. Manchas pardacentas na face superior de folha da roseira. Fonte: Jean L. Williams-Woodward.
No tabaco, o míldio, também conhecido como mofo-azul, tem como agente causal o fungo Peronospora tabacina. Sua ocorrência restringe-se às plantações dos estados do sul do país e de São Paulo. O patógeno sobrevive, mormente, em plantas voluntárias; após a esporulação, sua disseminação ocorre pelo vento, por insetos ou pelo homem; quanto às condições climáticas, tem-se que dias frios e úmidos são mais favoráveis à ocorrência da doença. Seus sintomas ocorrem nas folhas, e são evidenciados pela formação de manchas amarelas na face superior (Figura 8), e esporulação de coloração branco-acinzentada na parte inferior - às vezes, esta apresenta um reflexo azulado -; devido à necrose da parta aérea das plantas, os danos da doença podem ser severos quando esta ocorre em sementeiras. Uma prática cultural importante para evitar a ocorrência do fungo é a escolha de áreas de plantio com boa drenagem e livres de sombreamento excessivo; o controle químico deve ser feito nos canteiros de mudas de forma preventiva, aplicando fungicidas (Mancozeb, por exemplo) logo após a emergência.
Figura 8. Manchas amarelas na face adaxial de folhas de tabaco. Fonte: Agrolink.
Nas cucurbitáceas, o míldio é provocado pelo fungo Pseudoperonospora cubensis; as espécies mais afetas são: abóbora, melão, melancia e pepino; o fungo está presente em todas as regiões produtoras, sempre causando prejuízos econômicos aos produtores. O fungo é um parasita obrigatório, sobrevivendo na forma de oósporos em restos culturais; em condições de alta umidade e temperaturas baixas a amenas (10 a 25 °C), o patógeno encontra condições ideais de sobrevivência, disseminando-se na forma de esporos pelo vento, respingos de chuva ou água de irrigação. Os sintomas na face adaxial são evidenciados por manchas cloróticas (Figura 9), que, com o passar do tempo, unem-se, formando uma camada branca e fina; já na parte abaxial, ocorre a formação de corpos de frutificação do fungo (esporangióforos e esporângios) de coloração verde-oliva a púrpura; ataques severos causam desfolha, raquitismo e má formação dos frutos. Para o controle, faz-se necessário o uso de práticas culturais para evitar a umidade, como preferir a irrigação por gotejamento e aumentar o espaçamento entre as plantas para melhorar a ventilação. No controle químico, fungicidas protetores podem ser usados de forma preventiva ao aparecimento dos primeiros sintomas da doença; fungicidas sistêmicos podem ser utilizados de forma alternada aos protetores.
Figura 9. Manchas cloróticas em folhas de cucurbitácea. Fonte: Rahul Sharma.
Com esta publicação, fica evidente a importância dos agricultores ficarem atentos ao Míldio, de forma a evitar que a doença atinja grandes proporções na área e espalhe-se para outros locais; assim, os produtores devem usar cultivares resistentes quando possível, rotacionar as culturas, evitar áreas úmidas, propiciar maior ventilação as plantas, e fazer o uso racional de fungicidas de acordo com a recomendação técnica (vide Agrofit).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Míldio. Disponível em: https://www.agrolink.com.br/problemas/mildio_1606.html. Acesso em: 25 out. 2018.

Míldio. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%ADldio. Acesso em: 25 out. 2018.

Sistema de Agrotóxicos Fitossanitários – AGROFIT -. Disponível em: http://agrofit.agricultura.gov.br /agrofit_cons/principal_agrofit_cons. Acesso em: 25 out. 2018.


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